"Era uma vez uma menina que vivia num castelo...", é noite e o pai começa a contar a história da Branca de Neve. Mais uma vez. A menina já conhece a história e não é preciso um livro, apenas as palavras do pai que a fazem saltar da cama e entrar no castelo, passear pela floresta e até beijar o princípe. Agora, ela transformou-se na menina que é princesa e cria a história à sua maneira.
Esta é a magia das histórias, mas existem outras ponderações a fazer sobre os contos de fadas. "Cada conto de fadas é um espelho mágico que reflete certos aspectos do nosso mundo interior e os passos exigidos pela nossa evolução da imaturidade para a maturidade."(1)
Eles dão uma permissão implícita à criança para ser a personagem "boa" ou a personagem "má" e exporem os seus medos: o abandono dos pais, o medo dos animais selvagens (tal como o lobo do "Capuchinho Vermelho") ou até o medo da morte, sem terem de, em concreto, falar sobre o que a atormenta. Ouvir de que forma a menina do "Capuchinho" vence o lobo no final, fá-la sentir-se feliz e, durante algum tempo, precisa de ouvir esta história noite após noite.
"A criança vai fazendo girar os seus fantasmas em torno da história", aprendendo de que forma as suas personagens os poderiam vencer. Este é "um importante passo para se familiarizar com as reacções paralelas dentro de si."(1)
Num conto de fadas, a certeza do final feliz, permite à criança deixar que o "seu inconsciente", "alinhe com o conteúdo da história."(1)
Para mim, o conto é um caminho para regressar à infância, ou para nos manter-mos por lá por mais uns anos maravilhosos. Afinal, como nos diz Gianni Rodari, "o conto (...) é também um exercício de lógica."(2)
Bibliografia:
(1)-BETTELHEIM, Bruno, "Psicanálise dos contos de Fadas", Bertrand Editora;
(2)-RODARI, Gianni, "Gramática da fantasia", Cadernos: O professor, Caminho;