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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Outono



A última castanha




Era uma castanha que estava como as outras, pendurada de um castanheiro.




Chegando o tempo, as castanhas amadurecem e caem por si.




Só que esta não caiu.


- Estou bem onde estou e não quero aventuras – dizia.

Uma a uma, as outras dos ramos iam caindo e rebolando pelo chão, protegidas pelo cobertor ouriçado que as cobria até ao nariz.

Nariz é modo de dizer…
Vinham os garotos, estalavam-lhe os ouriços e metiam-nos nos bolsos.


A tímida e teimosa castanha desta história a tudo assistia do seu mirante e não gostava.

- A mim não me levam eles – dizia.


Era a única que sobrava em todo o castanheiro. As folhas a fugirem da árvore, sopradas pelo vento, e ela a afincar-se ao ramo, com unhas e dentes.




Unhas e dentes é um modo de dizer…

Sozinha, desabrigada, não estava feliz. Nem infeliz.

Sentia até uma ponta de orgulho por ter conseguido resistir tanto tempo.

Um sabor de vitória que a ouriçou toda.

- Ai que vou cair – gritou.

Mas, no último instante, conseguiu agarrar-se.

Ainda não era daquela.

Entardecia. Um grupo de gente acendera uma fogueira, junto ao castanheiro.

Os garotos, que tinham andado às castanhas, e os pais dos garotos e os amigos dos garotos riam e cantavam.

Estavam a preparar o magusto da noite de São Martinho.

A castanha solitária, no alto do castanheiro nu, estranhou a vizinhança. E intrigou-se.
Que estaria a passar-se?
Debruçou-se do ramo mais e mais. A madeira a arder estalava, mesmo por baixo da castanha, a última.
O fumo entontecia-a. E se fosse ver de perto o que se passava?
Foi. Caiu.

E a história acaba aqui.

Paciência.

É o destino das castanhas.

Destino é um modo de dizer…




Autor: António Torrado

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